“Quando a vida não te pertence – Fim de linha” (Texto 21 de 35)
Desde aquele momento em que se perde a aderência ao solo, até àquele outro em que perante o embate tudo termina, há uma eternidade na queda.
Um
ataque de pânico avassalador, a certeza da morte e um ponto final.
Rodrigo
amava a vida, porventura apenas se tinha arrependido da atividade profissional
que escolhera anos antes, ainda estudante de mestrado.
Aluno
brilhante, rápido de raciocínio e com uma excecional capacidade dedutiva, com
facilidade para os desportos, agradável à vista, de sorriso cativante e de
conversa fácil, este era Rodrigo.
O
mesmo Rodrigo que num dia de janeiro acabou por se atirar, cair ou ser empurrado
do telhado, o filho prodígio, o irmão exemplar, o amigo presente.
Mas
quem terá sido este Rodrigo que aparentemente ninguém conhece?
Solitário,
independente, trabalhador, a pessoa de aparência tranquila, sem medos aparentes
talvez pela pessoa reservada que era, com pouco passado, pelo que muito
escolheu esquecer.
Tantas
questões que ficam por responder.
Qual
terá sido a razão de ter preferido ficar por Lagos e aceitar um emprego
miserável? Por aquele parco valor poderia ter ido trabalhar para um bar ou
qualquer outro tipo de atividade, sair do país, escolher Lisboa ou Porto, não é
como se o seu inglês e espanhol não fossem fluentes.
Pela
família? Talvez.
Como
é que alguém que não apresentava sinais depressivos era visto pela família como
tal?
Por
onde é que Rodrigo passaria uma boa parte das suas noites? A fazer o quê e com
quem?
Para
além da cunhada, assumindo que Cidália não se tinha equivocado, quem mais é que
estaria com ele no telhado no dia da queda? E o que teria levado Rosa a dar-se
ao trabalho de subir ao telhado? Mas, ela não esteve presente no momento da
queda, já que Duarte a encontrou na mercearia na hora exata do acontecimento.
Duarte
dava de barato muitas das incongruências do diz que disse. As pessoas acabam
por mentir pelas razões mais caricatas, seja por orgulho, por manter
aparências, por evitar males piores, por uma questão de imagem ou simplesmente
para não ficar mal no quadro ou por outra qualquer motivação.
Duarte
sabia que no emprego anterior, Rodrigo não estava a trabalhar na sua área de
estudos, mas o fator namorado da filha de um dos donos tudo justificava.
Nem
todo o potencial deste mundo nos parece salvar do destino. Um jovem brilhante
que atingiu tanto e ao mesmo tempo tão pouco, que aparentava a maior
tranquilidade do mundo e que talvez não tenha sido mais do que um vendedor de
ilusões, a oferecer-nos a visão que dele queria que tivéssemos.
Muito bom o capítulo. Sem dizer nada diz tudo e aclara um pouco o mistério. Rodrigo vendeu a alma ao diabo ainda estudante. A morte dele terá sido selada nesse dia. Enfim vamos continuar a acompanhar com muita curiosidade. A propósito, o filho da Rosa, é sobrinho ou filho do Rodrigo?
ResponderEliminarAbraço e saúde
Bom dia, Elvira. Agradeço muito a generosidade e espero que esteja bem.
EliminarOra, tive que esperar pela publicação do texto de hoje… (sorrisos) A Elvira já tinha essa dúvida/suspeição faz tempo, mas só agora é publicado o esclarecimento do “sobrinho” e do que Rosa estaria a fazer em cima do telhado (confirma-se, era Rosa – Sorrisos)
Abraço e um resto de semana tranquila e inspirada
Mais um belo capítulo que amei ler
ResponderEliminar.
Uma semana feliz … cordial abraço
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
????
ResponderEliminarO sobrinho pode ser filho? Ai, Elvira, agora deu-me um nó na moleirinha mas....
Um passo à frente, dois atrás e o mestério continua denso.
João, acho que tens queda para criminologia, serás o CSI português das letras? A verdade é que estou a fdorar esta história.
Bom dia, miúdo so sul
Comecei a construir a resposta ao teu comentário ontem, mas depois tive de desistir…
EliminarÉ generosidade tua, no entanto foi um dos contos que mais me divertiu escrever.
Obrigado, um beijinho para ti
"Desde aquele momento em que se perde a aderência ao solo, até àquele outro em que perante o embate tudo termina, há uma eternidade na queda." Este começo, desde logo nos deixa perceber a qualidade desta narrativa, além de aumentar ainda mais a nossa curiosidade. Brilhante!
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Não posso fazer muito mais que agradecer por tamanha generosidade nas palavras, sabendo o longo caminho que teria ainda que percorrer para as merecer.
EliminarUm beijo de gratidão, saúde e dias de grande inspiração.
Os dois primeiros parágrafos transmitem muitissimo bem o que se sentirá numa queda mortal...
ResponderEliminarDesejo-lhe boa sema , abraço
Obrigado, abraço e boa semana
Eliminar"Tantas questões que ficam por responder."
ResponderEliminarSerão respondidas a seu tempo?
Aguardo com interesse.
Esta sua escrita prende-nos.
Boa contonuação de Felizes Festas Pascais!
Beijos.
Muito obrigado, têm sido semanas exigentes a nível de tempo e as festas ajudaram pouco...
EliminarEsta era uma das histórias que quis acrescentar ao enredo principal e que não estava na minha ideia original, mas a dada altura entre revisões... (sorrisos)
Um beijo e boa semana
A sua prosa é riquíssima, tanto pelo enredo que a suporta como pela narrativa.
ResponderEliminarContinuo a ler com encanto.
Boa semana, caro amigo João.
Abraço.
Muito obrigado, Jaime, aquele abraço.
EliminarA vida pertence-nos sempre, a não ser em condições não normais.
ResponderEliminarUm capítulo bem escrito e que põe três hipóteses quanto à morte de Rodrigo Lobo. Ou acabou por se atirar, cair naturalmente ou ser empurrado do telhado por alguém. Parece que nada justifica nenhuma destas hipóteses, porque Rodrigo era um homem com valor e sabia o que queria, acho eu. Algo aconteceu, mas o João irá revelar-nos daqui a mais uns textos.
Boa semana.
Confesso que já não sei bem o motivo que me levou à escolha deste título… que foi a minha terceira escolha… talvez com a revisão dos últimos dois textos consiga ter uma ideia mais clara (tenho algumas suspeitas, mas estaria a arriscar adiantar-me).
EliminarConcordo, ainda nada justifica nenhuma das 3 hipóteses (sorrisos).
Um beijo um uma semana inspirada.
" O sobrinho pode ser filho?" Legalmente não, mas que acontece, ai isso acontece... Nunca se tem a certeza..." mas é o que se comenta por aí " Cansei de ouvir isso na minha aldeia onde nasci e vivi até casar. A Elvira é perita em dar " nó na moleirinha Noname!
ResponderEliminarAguardemos com paciência, porque logo, logo saberemos. Beijinhos e uma boa semana para todos, com saúde, especialmente
Emilia
Já não sei muito bem se nos textos adiante (os que estão já agendados) se acabo por voltar a retratar esta situação, mas entre o que estava no meu pensamento e o que acabei por “traduzi” para o “papel” foi um pouco um triângulo, partindo do pressuposto (na minha mente) que já teria havido um interesse Rosa/Rodrigo (não totalmente concretizado) antes de Pedro surgir e que talvez por não ter avançado ou por Pedro aparecer no Algarve e ser entre a novidade e a maturidade (o que se queira) acabou por ser ele a ficar com Rosa, algo que nunca teria ficado totalmente bem resolvido. Com o desgaste da relação Rosa/Pedro e um Rodrigo um pouco mais sensível/pressionado após perder o emprego e durante o processo que decorreu em tribunal… num dia de insanidade de ambos… aconteceu, foi repetido, gravidez que se segue, o manter a criança e o facto Rosa chegar à conclusão de nunca ter deixado de amar Pedro apesar da traição. Pedro considerei que era alguém muito maduro e vivido e que acima de tudo amava Rosa e ultrapassou o que podia ultrapassar (mais em relação a rosa que em relação ao irmão).
EliminarRodrigo, motivado pela aparência do diz que disse, acedeu aos desejos de Rosa e do irmão e manteve-se o tio presente que participa nas despesas.
Não sei se ajuda…
Mas é claro que procurei por um lado trazer um efeito surpresa ao enredo e por outro lado um motivo (válido ou não é outra história – sorrisos)
Beijinhos, obrigado e boa semana
Uma história inquietante.
ResponderEliminarUm poço de perguntas sem resposta.
Um beijo para ti, obrigado e boa semana
EliminarEste gajo é um puzzle muito complicado.
ResponderEliminarObrigado, boa semana, abraço
EliminarOlá, João
ResponderEliminarEis um capítulo em que o próprio autor apresenta uma série de questões, talvez para ganhar balanço no sentido de nos esclarecer a seguir :)
Sei que o desfecho será no capítulo 35°, mas até lá veremos o nó desfazer-se, só temos de ter paciência.
Abraço
Olinda
Este conto acaba por ter várias fases e após um momento longo de apresentação de personagens achei importante um balanço do que está a acontecer ou do que aconteceu atendendo a que é um conto para blogue e que representa uma exigência acrescida a quem lê
EliminarO desfecho será na publicação 35 (o que não deixa de ser uma violência muito grande para um conto de blogue), mas dado o 34 e o 35 estarem por rever… não sei se ainda não vamos ter um 36 e um 37… (sorrisos)
Muito obrigado, abraço e boa semana
Um excelente capitulo que nos resume um pouco do que foi a vida do Rodrigo, pelo menos aquela que foi do conhecimento geral, pois acredito que havia um lado oculto da sua vida.
ResponderEliminarBeijinhos
A título de curiosidade, quando pensei na criação do personagem e na opção de dar nota desta eventual possibilidade de vida dupla, parei um pouco e questionei-me do que seria mais difícil (se o personagem fosse real):
Eliminar-Ele ter uma vida dupla, inclusive com a família, que muito possivelmente só queria dinheiro (pelo que ele diz a Rosa com algo como isto “vou resolver, como sempre resolvo” e que não me recordo se alguém parou nesta frase, mas que nos comprova que já não é de hoje que Rodrigo suporta a família e que possivelmente tal já acontecia mesmo antes da criança nascer);
Ou,
- O facto de esta vida que está à vista ser tudo o que há para mostrar, independentemente da análise que se possa fazer do dinheiro encontrado nas malas…
Beijinhos e obrigado