Desafio 2 - “Natureza, disse ele”
Desafio 2 — O Espaço Que Respira
Enunciado:
Escreve um texto (até 350 palavras) onde o cenário não é apenas o pano de
fundo, mas um protagonista subtil. Pode ser uma cidade, uma casa, um quarto,
uma praia — o lugar deve ter “vontade própria” e moldar a história, ou mesmo o
destino da personagem.
Objetivo técnico:
Explorar a personificação do espaço e usá-lo como força narrativa. O lugar deve
ter impacto emocional ou simbólico, como se fosse um espelho da personagem — ou
o seu contrário.
“Natureza, disse
ele”
Os primeiros raios de sol ainda mal tinham beijado
os ramos e folhas das árvores. E nós já na estrada. Era sempre assim…
A minha mãe ao volante. Os momentos de troça e de divertimento.
A constante lamúria do meu pai em tons de graça. O humor, esse, só resultava
porque ela lhe dava resposta.
Hoje, adulto, recordo o meu pai num misto de afeto
e curiosidade. Ele não dormia no carro, a menos que fosse a minha mãe a
conduzir. Vejo-me a sorrir.
A pequena casa de família era mais utilizada para
períodos de férias. Imponente pelas cinco gerações que cruzou.
Nas traseiras, um tanque de razoável dimensão. Aproveitava
a água do riacho e terá sido a felicidade da criançada.
Pessoalmente, o ponto alto era e continua a ser, o
reencontro. A minha Ana Teresa. Uma oliveira centenária, situada perto da janela
da cozinha. O nome parece incomum. Resulta do humor britânico de um qualquer
antepassado, confrontado com a sonoridade da palavra “natureza”.
Atualmente, sempre que para lá levo a minha
família, sentamo-nos nos bancos de pedra por baixo da Ana Teresa. Ela parece
inclinada para nos ouvir melhor. À sua sombra, conto aos miúdos as histórias
passadas. Bem ao estilo do que os meus pais e avós tinham feito comigo. Na
Primavera há um cheiro suave e quase doce. Quando passa a fruto, a azeitona permanece
com um odor que lhe é muito característico.
É difícil de explicar e no entanto, aqui estou eu,
a tentar. Um pulsar sereno, olhos que veem mais do que está à vista. Sorrisos,
risos, conversas, mais os abraços e os amores devolvidos na sua presença. Ela abriga
e a tudo assiste, responde aos meus desabafos com um acenar do vento nos ramos.
Chama por mim. Com alguma frequência, fecho os olhos, sinto a pureza do seu respirar
e escuto tudo o que tem para me dizer. E quando os raios e focos de luz beijam
os seus ramos do nascer ao pôr-do-sol, penso: Mágico. Entendo-o como um
sussurro que me diz: Fica.
Meu amigo, a nostalgia da infância tem esse sabor maravilhoso que tão bem aqui relatas...
ResponderEliminarO meu abraço
De volta a Macau, ao trabalho, aos blogues.
ResponderEliminarBoa semana