“Natureza, disse ele”

 

Desafio 5 — O Espaço Que Respira

Enunciado:
Escreve um texto (até 350 palavras) onde o cenário não é apenas o pano de fundo, mas um protagonista subtil. Pode ser uma cidade, uma casa, um quarto, uma praia — o lugar deve ter “vontade própria” e moldar a história, ou mesmo o destino da personagem.

Objetivo técnico:
Explorar a personificação do espaço e usá-lo como força narrativa. O lugar deve ter impacto emocional ou simbólico, como se fosse um espelho da personagem — ou o seu contrário.

 

“Natureza, disse ele”

Os primeiros raios de sol ainda mal tinham beijado os ramos e folhas das árvores e já nós na estrada. Era sempre assim…

com a minha mãe ao volante, havia sempre momentos de troça e divertimento, não por causa da condução, mas pelo muito que o meu pai se queixava do caminho… O humor, esse, só resultava porque ela lhe dava resposta, “foi o que te pareceu nos sonhos que tiveste?”.

Hoje, adulto, recordo-me com curiosidade que o meu pai nunca dormia num carro, a menos que fosse a minha mãe a conduzir. Esta lembrança faz-me sempre sorrir.

Para mim, sempre houve algo de fascinante no regresso a casa dos avós, os maternos, os únicos que conheci, como se parte de nós nunca de dá tivesse saído.

Uma pequena casa de família, mais utilizada para períodos de férias, mas de certa forma imponente pelas últimas cinco gerações que cruzou.

Nas traseiras, um tanque de razoável dimensão, que aproveitava a água do riacho e que terá sido a felicidade da criançada.  

Para mim, o ponto alto era e continua a ser, o reencontro com a Ana Teresa, uma oliveira centenária, situada perto da entrada da cozinha que dava para o exterior. O nome parece incomum, mas resulta do humor britânico de um qualquer antepassado, confrontado com a sonoridade da palavra “natureza”.

Sempre que hoje para lá levo a minha família, sentamo-nos nos bancos de pedra por baixo da Ana Teresa e conto aos miúdos as histórias passadas, bem ao estilo do que os meus pais e avós tinham feito comigo. Na Primavera, há um cheiro suave e quase doce e quando passa a fruto, permanece um odor que lhe é muito característico.

É difícil de explicar… e, no entanto, aqui estou eu, a tentar... dá-me um conforto que aquece o coração, um sentimento de não estar sozinho e parece responder aos meus desabafos quando o vento lhe dá nos ramos. Com alguma frequência, dou por mim a fechar os olhos e a visualizar os raios e focos de luz com que nos brinda do nascer ao pôr-do-sol… mágico.

 

Comentários

  1. Meu amigo, a nostalgia da infância tem esse sabor maravilhoso que tão bem aqui relatas...
    O meu abraço

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