“Quando a vida não te pertence – Da cumplicidade ao amor, da união à separação, Parte III” (Texto 34 de 35)

- Eu sei que parece pessoal, mas o que é que correu mal na vossa relação?

- Parece-lhe pessoal?

- Ironia a esta hora não fica bem Vera.

- Não consegui aguentar a carga negativa que o acompanhava numa base diária. Se inicialmente havia a empatia, a atração sexual e a cumplicidade de ser a única pessoa neste mundo a estar no mesmo barco e estarmos ambos tão sozinhos…

Uma lagrima escorre-lhe pelo rosto.

- Depois senti que me estava a levar com ele para o fundo do poço e tentei, mas deixei de conseguir. Tínhamos planos para fugir juntos, mas não é fácil chegar a uma verba que nos permita ir para onde a liberdade não será tirada e será que quero andar constantemente a fugir e longe do meu país? Duarte, não quero.

- Se eu conseguir arranjar-te um acordo que te dê essa liberdade?

- Duarte, é tudo o que mais quero, livrar-me deste pesadelo.

Ela mostra-se relutante apesar do que acabou de afirmar.

- Algum problema?

Saca um telemóvel do bolso do casaco.

- Toma, é o telemóvel do Rodrigo, ele esqueceu-se dele na minha casa no dia anterior. Não sei o código, mas tenho um e-mail por ele enviado a despedir-se de mim.

Ela mostra-lhe o telemóvel dela, abre o e-mail e passa-o para as mãos deste.

- Lê.

- É uma despedida, mas não prova que tenha chegado a vias de facto.

- Não sei, tu não o viste como eu vi.

Ele olha-a nos olhos, mas sem lhe conseguir ler os pensamentos.

- Não saias de Lagos se faz favor, amanhã serás contatada muito possivelmente.

- Sim, claro.

Duarte leva-a ao carro, ela entra, agradece, despede-se e arranca.

Ao ver o Audi Q3 S line cinzento a avançar pela avenida fora, sente o chão estremecer num ataque de pânico não previsto.

Aquele era o carro que duas horas antes tinha passado por ele a grande velocidade quando não estava muito longe de chegar ao seu carro, a duas ruas de distância do seu prémio.

- Não acredito.

Comentários

  1. Bom, isto é de mestre, João. Eu bem disse que o Duarte estava a pôr-se a jeito para levar o mesmo fim do Rodrigo. Será que vai conseguir destrinçar a história? O que vale é que já falta pouco, ou todo este suspense ainda me criava problemas cardíacos. Rsrsrs. A sério João os meus parabéns. Esta história está mesmo muito boa.
    Abraço e saúde

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    1. Muito obrigado pela generosidade. Duarte pode ter relativizado ou não ter dado a importância que Vera merecia ter. Será que cometeu um erro ao acreditar que oferecer-lhe de volta a liberdade através de um acordo seria suficiente para a manter por perto?
      Um abraço de gratidão, espero que esteja bem.

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  2. Agora fiquei baralhada :)

    Sexta! É sexta que vou desembaralhar eheheheh


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    1. Conta-me tudo... porquê baralhada? (sorrisos9

      Um beijinho para ti

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  3. Comentei logo de manhã, mal apareceu o comentário. O que aconteceu? Desapareceu, ou está no spam?
    Abraço e saúde

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    1. Foi para ao spam... não sei o que se passa com o blogger, mas isto está um desastre.

      Um abraço para si e obrigado por ter avisado (nesta fase de tempos a tempos estou a ir ao spam, agora que já vi o que se está a acontecer)

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  4. Um Audi S 3 numa pessoa em necessidades??
    Essa traz água no bico...

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    1. Ela não é necessitada... quer é uma verba suficientemente alta para fugir do país... Mas, esse era a vontade do Rodrigo (contado por Vera).
      Mas o Pedro está atento e o valor gasto no carro teria ajudado a sair mais cedo do país... há algo que não bate certo

      Abraço e bom fim de semana

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  5. Aí...aí ...aí ... não posso perder o último capítulo. Pela pequena extensão de texto que contém cada capítulo dessa história, maravilhosa, estou curiosa pra saber como o João fará para o desfecho. Só espero que o Duarte saia ileso. Quanto à Vera, duvido que ela saia dessa encrenca com vida.
    Parabéns João. Conseguiste me prender a atenção . Adorei.
    Beijos sem mistérios pra ti...

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  6. Caramba! Acho grandes manobras a dessa Vera!...o telemóvel, o carro...
    e esteve na hora no "local do crime"?...
    Cá para mim, que li o que estava em atraso até aqui, essa Vera tem culpas no cartório, mas tudo pode acontecer. Só o João é que está por dentro da trama, muito bem bolada! :)

    Beijinhos.

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  7. A Vera tem a "escola toda", parece-me. Quer safar-se, mas quer muito dinheiro.
    O Audi baralhou-me e ao Duarte também. Brevemente, será descortinado o mistério de um conto que nos fez pensar até ao fim.
    Parabéns pelo seu raciocínio brilhante, que levou o leitor até à última letra.
    Uma noite tranquila e feliz.

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  8. O que terá visto o Duarte?
    O melhor é eu subir um pouco mais e saber de fonte segura...
    O autor vai desvendar-nos esse mistério no post 35 :)
    Abraço

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  9. E eu que no capitulo anterior, até fiquei a pensar que a Vera estava a falar verdade. O suspense mesmo até ao final, brilhante!!!
    Beijinhos

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