“Quando a vida não te pertence – Uma história mal contada” (Texto 16 de 35)
Duarte despe-se e deixa a roupa no chão da casa de banho, entra para o chuveiro que já tinha a água a correr, sente o calor agradável a percorrer-lhe da cabeça aos pés, confrontado com mil e um pensamentos que o trespassam à velocidade da luz, vertiginosamente e violentamente.
Tenta
juntar os factos e admite que mesmo sendo verdade que nos últimos dias Rodrigo
andava um pouco mais reservado que o habitual e até um pouco cabisbaixo,
apático e pensativo, ainda assim, quem dera ao comum dos mortais apresentar a
clareza de espírito e mesmo tranquilidade que este aparentava num dia menos bom,
como aqueles últimos pareciam ter sido.
“Não
faz sentido. Não o Rodrigo que eu conheço”. Pensa.
Num
dos últimos dias, a dada altura, quando terminaram o treino, lembra-se de Rodrigo
pegar no telemóvel, passar uma ligeira vista de olhos pelas mensagens e e-mails
e parecer contrariado. Deixou um “obrigado pelo treino”, disse que a realidade
estava a chamar e soltou um “até amanhã” e um “está na hora do banho”.
Duarte
pega no toalhão de banho e começa a enxugar-se, deixando-o também no chão da
casa de banho.
Lá
fora a chuva deu umas pequenas tréguas, mas o vento continua a fazer-se ouvir,
mesmo a partir do lado de dentro do apartamento.
“E
que história era aquela da irmã?”
“Provavelmente
conseguiu aquilo que queria, dinheiro, ou será que queria já ocupar a casa?”
“Há
pessoas para tudo”. Abana a cabeça.
Veste-se
rapidamente, abre e volta a fechar o frigorifico. É oficial, tinha de ir às
compras.
Sai,
fecha a porta à chave, prepara-se para descer e cruza-se com a senhora que
limpa as escadas do condomínio.
-
Menino Duarte, ainda estou em choque com a notícia.
-
Estamos todos Cidália, estamos todos.
-
Por pouco não vi acontecer, Santo Deus, que tragédia. Pelo que a sua vizinha me
contou, terá se passado pouco depois de eu ter limpado as escadas e saído
-
Sim, não tinha pensado nisso, mas sim.
- Meu Deus do céu, ainda não
estou em mim. Nem quero pensar como é que devem estar as pessoas que estavam
com ele no telhado. Pobrezinhas devem estar um caco.
-
Pessoas? Estava alguém com ele? Viu quem eram?
-
O menino sabe que nestes prédios ouve-se tudo, uma péssima construção. O menino
comprou gato por lebre.
Duarte
encolhe os ombros, mas demonstra impaciência na continuação da resposta.
-
Quando vim varrer e estava no segundo andar ouvi vozes de mulheres e quando estava a lavar a de um outro homem
também. Não vi caras menino, nem apanhei o que diziam, mas não é difícil reconhecer a
voz esganiçada daquela cunhada dele.
Cidália
sorriu como sempre sorria cada vez que dizia uma das suas gracinhas.
-
Curioso. A Cidália falou disso com mais alguém?
-
Menino, quem é que fala aqui com a velha que limpa as escadas?
Sorriu
novamente daquela forma peculiar.
-
Pareciam todos zangados. O Rodrigo não devia ter ido limpar o algeroz irritado,
nunca dá bom resultado essas coisas, que o diga o meu falecido marido, Deus
guarde em paz a sua alma.
Devagar, a trama adensa-se ao mesmo tempo que o véu se vai levantando, aqui e ali :)
ResponderEliminarGosto destes enredos, do momento em que pensamos saber quem é o mau da fita, mas logo, um capítulo à frente, nos diz que não.
Bom dia, João
Neste momento, que acabei de agendar textos para todo o mês de abril, apenas espero que não se torne nume telenovela venezuelana (sorrisos).
EliminarPenso que a partir daqui as portas e janelas foram abertas e os ventos são de força… ou seja, cada texto está imbuído em informações relevantes para o enredo.
E espero este fim de semana ter tempo e tranquilidade para avançar com o próximo conto que terá apenas 7 textos e será num registo completamente diferente.
Um beijinho para ti
As aparência são só mesmo aparências...
ResponderEliminarAbraço
A ilusão da ilusão, ilusão é... (sorrisos)
EliminarObrigado, abraço e bom fim de semana
Boa tarde João
ResponderEliminarUm conto com todos os ingredientes, para deixar o leitor em espera.
Escrito de uma maneira muito criativa e imaginativa, ou então talvez baseado em algo real, mas isso, não tem relevância para a qualidade literária do mesmo.
Li agora todos os posts atrasados e voltarei então para ir acompanhado .
Um resto de dia Feliz com saúde, e muita imaginação.
Um beijo.
Boa noite,
EliminarAgradeço muito pela simpatia. Todo o conto acaba por brotar do meu imaginário (apesar de considerar que ao nível da escrita apenas os eleitos conseguem ainda apresentar algo que não tenha ainda sido inventado, o que não é o meu caso), com uma escolha de temas que queria ver retratados e outro tanto que gosto de deixar à interpretação.
E eu tenho noção de que o nosso dia a dia é exigente, o que valoriza ainda mais a presença que agradeço.
Um beijo, saúde e um fim de semana inspirado
Ora bem, o Jaime andava há imenso tempo a pedir ao Rodrigo para ir limpar o algeroz, e no dia em que ele o decide fazer, toda a gente resolve reunir-se com ele no telhado? Afinal era uma limpeza, ou uma festa? A acreditar na senhora da limpeza, temos pelo menos o Rodrigo, duas mulheres, sendo uma delas a Rosa, a outra poderia ser talvez a Marta, embora eu acredite que era outra pessoa, e pelo menos um homem mistério. Gritam não se sabe bem porquê, o Rodrigo está nervoso, dá um passo em falso e estatela-se cá em baixo. Teria sido um acidente, não um assassinato , nem um suicídio. Muito bem, todavia se assim foi, porque aquelas pessoas não contaram o que se passou? Fizeram um pacto de silêncio, e desapareceram do local para que ninguém as visse? Não é fácil manter secreto um caso de morte em que várias pessoas estiveram de algum modo envolvidas, nem que seja apenas como assistentes. Se bem me lembro, o Pedro recebeu a notícia da morte do irmão pelo telemóvel, na sala com a mulher presente. Mas se ela estava no telhado com o Rodrigo quando ele caiu...
ResponderEliminarBom ocorrem-me um sem número de ideias malucas. Até já me ocorreu que o filho da Rosa pode ser do Rodrigo, veja só.
Vou continuar a acompanhar cada vez mais curiosa.
Abraço e saúde
Olá!
EliminarQuatro pessoas num telhado só pode ser uma festa, tenho a certeza de que não foram lá para trabalhar… (muitos sorrisos)
E é mais fácil para mim esconder-me nesta tentativa de piada inicial porque não vou poder responder ao seu comentário (acho), mas estou de sorriso de orelha a orelha, porque a blogosfera é dos poetas (pela beleza contida nas publicações e por não ocupar o mesmo tempo que um texto com continuação que nos obriga a manter uma ideia mínima que seja ou a história muito simplesmente deixa de fazer sentido.
E tudo isto para agradecer a vossa presença, a vossa companhia nestes meus longos exercícios.
Tudo o que a Elvira escreveu faz sentido.
E mais sentido faz aproveitar o seu comentário. Escrever um conto, por mais pequeno que seja representa um exercício de escrita exigente, pela dificuldade em tornar as personagens credíveis (tentativa de), pela dificuldade em manter um fio condutor, (tentar ter) diálogos interessantes, a cadência dos textos, o interesse da história, a maneira como se escolhe apresentar os personagens e o enredo e a Elvira coloca todos esses caminhos porque sabe construir histórias e sabe o desafio que é.
Muito obrigado pela sua presença e pela pessoa bonita que é. Saúde, abraço e um fim de semana inspirado
Caso não tenhas recebido os meus comentários,
ResponderEliminarsomente volto a comentar, quando regressar a casa.
Para já confirma-se a minha suspeita: ASSASSINATO ☠️
Afinal, desta vez ficou publicado!!
Eliminar(sorrisos)
EliminarInsiste, insiste mas e quem terá sido? (sorrisos)
Pois, não sei o que se passa, normalmente não vou ler as respostas aos comentários tirando a partir do momento que me apercebo que normalmente dão respostas e foi assim que vi que não tinha sido publicado o meu comentário no teu blog, e já tinha acontecido o mesmo no da Fernanda (Fê blue bird) e como tal acredito que tenha acontecido noutros.
Mesmo algumas das minhas respostas a comentários ficaram por publicar, não sei se é meu se é do blogger…
Não te preocupes, apesar de ser sempre um prazer receber-te neste meu pequeno canto.
Um beijo para ti e um fim de semana tranquilo e a ver coisas bonitas.
Ui, ui, ui! A coisa promete!...
ResponderEliminarGrande enredo! Parabéns, João !
Expectante da continuação.
Beijinhos
(sorrisos)
EliminarMuito obrigado, beijinhos e bom fim de semana
Bem, levanta-se uma pontinha do véu com a conversa da senhora que limpava as escadas, mas, continuo sem qualquer certeza. Eu sou paciente.
ResponderEliminarBoa noite e bons sonhos.
Ainda bem que é paciente (sorrisos)
EliminarPelo menos comigo é muito paciente porque este conto nunca mais acaba … 😊
Acabei de agendar os textos de abril, não coloquei nada de maio para não arriscar enganar-me e publicar no lugar de agendar… e houve textos que gostei e outros que levei as mãos à cabeça e pensei “isto parece aquilo que eu acho que deve ser uma telenovela venezuelana (já que nunca vi nenhuma) (sorrisos)
Vamos esperar pelo melhor…
Um beijo para si, inspiração e bons sonhos
E afinal havia outra(s)...
ResponderEliminarPedro, até ao texto 35 coloca (s) nisso (sorrisos)
EliminarAbraço e bom fim de semana
Abraço, bfds
Eliminarquem é que fala aqui com a velha que limpa as escadas?
ResponderEliminarOlá, João Santana!
Uma grande verdade se encontra na fala acima.
Tenho aqui no edifício, uma zeladora que foge à regra geral, talvez por não ser 'velha' como a personagem do seu conto.
Em vias de regra é assim que se tratam os serviços gerais.
Tenha um dia abençoado com saúde e paz!
Abraços fraternais
Tem razão... Há muitos apontamentos "aqui e ali" que eu escolhi retratar situações como estas. A pessoa não deve ter tratamento diferenciado porque ninguém está acima de ninguém...
EliminarO meu obrigado pela presença. Hoje já não devo conseguir mas amanhã vou passar às visitas.
Abraço fraterno, saúde e bom fim de semana.
Olá, João
ResponderEliminarNeste ponto da trama opto por aguardar o desenrolar da situação.
A Elvira já apresentou uma série de possibilidades, todas elas
lógicas. Havendo mais gente com o Rodrigo tudo pode ter
acontecido. E a história vai tomando vários rumos...
Abraço
Olinda
Olá, Olinda, boa noite.
EliminarSim, este é novamente um ponto que reconheço como “recomeço”. Primeiro foi a apresentação dos personagens e agora que já pareciam estar ambientados, surge o início do enredo propriamente dito e parece a quem lê que estamos novamente no início.
A Elvira apresentou os caminhos pela prática que já tem em os procurar (sorrisos)
E no fundo é um comentário perfeito, porque se quem conta uma história não tentar chegar aos caminhos possíveis a história não avança, ou morre asfixiada ou fica cheia de buracos ou incongruências e o facto de serem contos revistos por uma só pessoa, há ainda o risco dos enganos, em nomes ou pior, aqueles pequenos lapsos que deixam de estar visíveis a quem já por lá passou “n” vezes”.
Abraço, muito obrigado e um bom fim de semana
Cada vez com mais suspense. A conversa do Duarte com a D. Cidália veio trazer mais informações e bem interessantes, pois pelos vistos ele não estava sozinho e para alem disso a senhora da limpeza pareceu ouvir a voz da cunhada, sendo que esta não comentou nada acerca de ter estado com o Rodrigo.
ResponderEliminarFico a aguardar o próximo evoluir da historia.
Beijinhos
(Sorrisos)
EliminarObrigado pela simpatia.
Se a D. Cidália não estiver certa acabou de meter a cunhada em sarilhos…
Beijinhos e bom fim de semana
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarA prosa não é diferente da poesia e há sempre um final feliz para a pessoa que leu,
EliminarAbraço e bom fim de semana
Agora, uma pequena provocação que quis levantar na resposta aos comentários e que acabou por ficar esquecida (por mim esquecida):
ResponderEliminarEu ofereci-vos um personagem que deixa a roupa toda no chão e nem uma pequena observação?
(sorrisos)
Não têm que responder. 😊
Trata-se de uma personagem, mas na realidade acontece o mesmo. Não conheço homem que coloque a roupa toda direitinha. Vocês, homens, são todos iguais em muitos aspetos. Veio no genes e nada a fazer. Hétero é todo igual.
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