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“Quando a vida não te pertence – Os traficantes, parte I” (Texto 30 de 35)

Por mais do que uma vez achou estar num beco sem saída e umas outras tantas pensou, não sem ironia, que o mais importante acabava por ser o dia não estar frio. “Mas que raio é que eu estou a fazer?” “A estragar a minha própria vida muito possivelmente”. Num monólogo em desespero de causa de perguntas sem respostas, a deixar em Duarte um sentimento de frustração e desalento. Sentia agora que não conhecia Rodrigo e não sabia muito bem em quem acreditar ou no que acreditar. Rende-se aos factos, no sentido de Pedro ter acertado num ponto frágil. Os extratos bancários não mentem e se não tinha como confirmar os pagamentos mensais pela criança ou outro tipo de gastos com o filho, a verdade é que tinha a perfeita lembrança do grande arranjo que o carro sofreu antes deste o dar à troca pelo novo e nos registos bancários não encontrou despesa alguma de relevo na meia dúzia de movimentos mensais. A conversa com Pedro acabou por prolongar-se por mais uma hora e meia e Duarte achou estar...

“Quando a vida não te pertence – O irmão, Parte II” (Texto 29 de 35)

A hora do almoço acabou por se prolongar sem que nem um nem outro tenham comido o que quer que fosse, limitando-se a permanecer num banco de jardim em frente ao escritório onde Pedro trabalhava. - Desculpa, mas tenho de te perguntar isto, respondes se quiseres, mas quando tiveres de prestar depoimento vais acabar por ter de dizer alguma coisa. - Diz. - Porque é que lá foste acima e qual a razão para já não lá estares quando o incidente aconteceu? - Recebi uma chamada da escola do Afonso a dizer que o estavam a levar para o hospital, caiu e partiu o braço em dois lados, podes confirmar. Duarte acena afirmativamente e pediu-lhe para continuar. - A Rosa estava furiosa, ele não pagava o valor que se tinha comprometido para as despesas com o Afonso faz mais de seis meses, mas não foi isso que me fez largar o trabalho e ir lá ter. - Então o que foi? - Ele mandou-me uma SMS a pedir para dar dinheiro à Marta e a dizer uma quantidade de coisas a tentar puxar ao sentimento. Tente...

“Quando a vida não te pertence – O irmão, Parte I” (Texto 28 de 35)

Falaram um pouco mais, mas já numa postura mais descontraída. Ela contou-lhe as recordações mais antigas que tinha de Rodrigo, a falta que o irmão lhe fazia e o quanto arrependida estava do rumo dado á vida e do mal que tinha feito aos que dela gostavam ou do mal que tinha feito a si mesma. Quando Marta se despediu, Duarte ficou ainda alguns minutos sentado a olhar o mar. O café tinha feito o que dele se pretende, apesar de começar a achar estar a precisar de um outro. As duas horas que conseguiu dormir estavam a revelar-se manifestamente insuficientes, mas, entretanto, já tinha combinado estar com Pedro durante a hora de almoço deste. Perante a hipótese de homicídio, algo que em momento algum tinha pensado como possível, Pedro não foi capaz de mentir sobre que tema fosse e revelou-se um livro aberto. O casamento com Rosa estava acomodado e desgastado pelos anos e ele aceitou a traição. - Já vivi muito Duarte e não é o sexo que me vai fazer amar a Rosa menos. É um amor diferent...

“Quando a vida não te pertence – A irmã, Parte II” (Texto 27 de 35)

Duarte deixou-a acalmar-se um pouco mais, perguntou se ela queria ir tomar o pequeno-almoço a algum lado. Ela acedeu, limitando-se a pedir apenas algum tempo para tomar banho e vestir-se. No caminho para a pastelaria, ela perguntou-lhe: - Vais prender-me? - Se me estiveres a contar a verdade não vejo razão para isso, mas não prometo que não sejas chamada a prestar declarações. Temos de descobrir o que aconteceu lá em cima. - Claro, entendo. Permaneceram em silêncio enquanto caminhavam e mesmo durante o pequeno-almoço. Duarte, a seguir, conduziu-a junto ao mar até encontrar um local onde fosse possível estar à conversa com a privacidade necessária. - Se não foi o Jaime, quem é que foi o homem que esteve com ele no telhado? - Pode ter sido o Pedro, porque o vi a chegar quando eu estava a sair, não sei se ele reparou em mim, mas penso que não. E o que vou dizer a seguir é algo que foi mantido em segredo estes anos todos. Ela sente a pressão e o corpo a tremer. - Acredite...

“Quando a vida não te pertence – A irmã, Parte I” (Texto 26 de 35)

O regresso a Lagos aconteceu pela madrugada adentro e talvez tenha sido o trajeto mais rápido que Duarte alguma vez fizera entre as duas localidades. Estacionou o carro e entrou sorrateiramente no apartamento de Rodrigo para deixar o computador, não fosse Jaime dar pela sua chegada. Chegado finalmente a casa, conseguiu dormir ainda algumas horas, apenas as suficientes para fazer tempo de não perder Marta que lhe tinha dito estar a dormir num quarto arrendado nas imediações da igreja. A caminho, envia uma SMS ao seu superior a solicitar dois dias de férias para resolver uns problemas familiares. Chegou pouco depois das nove, identificou-se como polícia e conseguiu entrar. Bateu á porta do quarto e esta ainda demorou a abrir. Voltou a bater à porta e ouviu um “Vai já” num gritar mal-humorado de quem ainda não acordou. - Duarte? - Desculpa, não queria acordar-te a estas horas, mas temos que falar. Posso entrar? - Por favor, entra e senta-te. Posso oferecer-te apenas a cama. ...

“Quando a vida não te pertence – Tentativa falhada” (Texto 25 de 35)

Ainda naquele início de noite, mal Vera se afastou, Duarte troca breves palavras com um amigo de Lisboa, entra no carro e segue nessa mesma direção. Ao chegar a Lisboa, consultou um amigo de infância, que de pirata informático acabou por terminar recrutado pela polícia judiciária. - Nascimento, tu estás a arranjar-me problemas. Que merda é esta? Isto nem parece teu, caralho. Duarte assentiu com a cabeça. - Ajuda-me. O amigo calçou luvas, ligou o portátil de Rodrigo e começou a trabalhar em silêncio enquanto Duarte dava voltas à sala a lutar contra o sono, acabou por sentar-se no sofá e dormitar por algumas horas. - Nada, gajo. Não encontro nada, é o laptop daquele tipo de pessoa que não faz absolutamente nada de errado, ou daquele tipo de pessoa que tem demasiado a esconder e nesse ponto não estará ao meu nível. - No caminho para cá cheguei à fala com a cunhada e por esta apanhei também a irmã, ambas estiveram no telhado, mas há muitas pontas soltas, nada faz sentido. Ros...

“Quando a vida não te pertence – Que família…, Parte II” (Texto 24 de 35)

  - Meu maninho,   só te queria ver… - Não tenho nada Marta, ainda agora a Rosa veio cá para me pressionar que tenho as prestações do Afonso em atraso. Reforça ele que a interrompe com impaciência, desgastado ainda pela conversa anterior e a acabar por falar ao mesmo tempo desta. - Meu querido menino, não me estás a ouvir. Por favor, deixa-me falar. Não quero dinheiro. Não quero o teu dinheiro. E não entendo o que tu e o Pedro conseguem ver naquela gaja, tirando a vulgaridade. Há mais mulheres na terra, sabiam? - Desculpa, avança e diz então, tenho de acabar isto e não está a correr bem, há folhas a entupir até ao cú de judas, não consigo imaginar como é que isto ficou assim. - Só necessito de um sítio para ficar, um qualquer sofá ou colchão chega. O Jaime arranjou-me o que fazer. Ele gesticula irado. - Marta, eu não acredito, estás em recuperação, a dependência é para a vida e tu vais trabalhar com um traficante? Foda-se Marta, raios te partam. Não sei o que te d...