"Dou-te quase tudo" - Que nunca nos falte o amor

 

Todos os dias, pela manhã, aos primeiros raios de luz, salta da cama, deixando a dormir o próprio despertador e Margarida, ela, bem enrolada ao édredon, bela como a vida, cabelos desgrenhados e a expressão tranquila de quem sonha com um mundo pleno de cor.

Dezembro parece querer publicitar a chegada de mais um Inverno, húmido, cinzento e frio, com chuviscos e dias escuros.

Numa rotina, quase perfeita, coloca o pão a descongelar no micro-ondas, espreme laranjas, prepara uma manga, deixa na mesa o queijo, a manteiga e o fiambre de frango, enquanto toma o seu primeiro café, não sem antes ligar o aquecimento da casa de banho. Estende a roupa deixada na máquina na noite anterior, abre as portadas da sala e deita um olhar de relance à lareira, ao sentir uma agradável sensação de conforto térmico, ainda fruto do crepitar passado.

Leva o cão à rua, sente o ar gélido, faz uma careta e solta-o no jardim, em frente ao condomínio, enquanto aperta o cachecol e dá ordem para que se despache. Acende o primeiro cigarro, absorvendo de seguida alguns segundos de um prazer que pretende deixar, quem sabe um dia.

 Regressa a casa, troca beijos apaixonados com Margarida, acabada de acordar, ainda com aquela deliciosa e mimosa expressão de quem não deixou na totalidade o Mundo dos sonhos.

 - O teu despertador acordou-me.

- Cumpriu a função dele, portanto… assim o teu fizesse o mesmo – Sorri, senta-se à mesa, enquanto começa pelo sumo e desbloqueia o telemóvel para ler as primeiras notícias do dia.

Pequeno-almoço terminado, levanta-se e dirige-se para a sala de banho, recebendo um beijo e um apressado “amo-te”, que o desperta para o facto de já estar atrasado.

Entre o trânsito, os transportes, as esperas, reuniões, e-mails, telefonemas, questões avulsas colocadas por colegas deslocados da realidade, consegue finalmente começar a trabalhar a partir das cinco da tarde, momento em que a noção de ter de levar trabalho para casa torna-se uma certeza.

Meia dúzia de mensagens trocadas com Margarida, alimentam-lhe o espírito e a sanidade. Fica a saber que o jantar está bem encaminhado, o almoço para o dia seguinte pronto, a casa limpa e que a senhora da roupa já por lá tinha passado.

Entra em casa, sente a agradável sensação do calor proveniente da lareira, beija Margarida, com quem troca sorrisos cansados e cúmplices. Storm, recebe-o com um brinquedo na boca e com a energia que um Golden Retriever de doze anos ainda consegue ter. Faz-lhe uma festa à distância possível, na tentativa infrutífera de não ficar com pelos no fato.

Jantam rapidamente, enquanto trocam as novidades do dia, as queixas, os suspiros, as palavras de amor. Margarida abre a pasta com testes para corrigir, ele o portátil da empresa para dar continuidade a um longo dia, não sem se perguntar, “a partir de quando ficou tudo tão complicado?”.

Ela na mesa da sala, com todos os papeis cuidadosamente numerados e em posições marcadas tipo planta de arquiteto, ele no sofá, lateral à lareira, com o computador na mesinha de apoio, trocam olhares ternos e Jorge consegue visualizar aquele momento, perdido no espaço e no tempo, do primeiro beijo, bastante posterior ao do primeiro olhar, ao das primeiras trocas de palavras, mas ainda anterior ao primeiro “amo-te” e à confirmação da certeza de querer passar o resto dos seus dias a seu lado.

 

Este texto que serviu de base ao desafio “Dou-te quase tudo” foi por mim publicado no “copo meio Cheio” em 11-12-20219.

Comentários

  1. Respostas
    1. Gostei muito e enquanto por lá andei a passear, vi muita coisa que gostei e assim que tiver tempo tenho de voltar a tentar um palavras paralelas… parece-te bem?

      Eliminar
  2. João, já lá está:
    https://sotepeco5minutos.blogspot.com/2022/02/desafio-dou-te-quase-tudo.html

    Espero ter conseguido superar o teu desafio. Há muito que não exercitava a escrita, estou um pouco enferrujada" mas fez bem, obrigada! :)

    Um beijinho

    ResponderEliminar
  3. Eu li este texto ontem à noite. Agora vou ler os seguintes .
    Abraço e saúde

    ResponderEliminar
  4. Boa noite, João!
    Um conto onde os detalhes relevantes demonstram uma grande cumplicidade.
    Fico emocionada ao ler contos com finais felizes. Assim eu gosto de viver também, embora cada um tenha um final que a vida lhe outorga.
    Feliz a Margarida que terá seu amor até o fim!
    Muito obrigada pela possibilidade de interagir.
    Vou ler a outra amiga que não o fiz.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos de paz

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

“Natureza, disse ele”

Desafio 1 – “O Retorno”:

Regresso a casa