“Quando a vida não te pertence – Que família…, Parte I” (Texto 23 de 35

A contrariar as previsões meteorológicas, apesar de frio, o dia mantém-se solarengo acompanhado apenas por uma muito ligeira brisa.

Rosa sente-se irritada e desce furiosamente aquelas escadas. Em caminho pega no telemóvel e queixa-se ao marido da conversa com Rodrigo e passa todo o tempo da duração da chamada aos gritos, como se Pedro fosse o responsável.

- O teu irmão é um merdas, um egoísta, com um ego do tamanho do mundo e um ingrato depois de tudo o que temos feito por ele.

Grita qualquer outra coisa impercetível para depois desligar o telemóvel com um “anormal” e imediatamente à saída da porta, pela surpresa ao cruzar-se com Marta, solta um “O que é que tu fazes aqui?”

- Não que te diga respeito, mas vim visitar o irmão que ainda tenho.

Rosa solta um riso histérico em sinal de provocação e um “sim, claro” que Marta escolhe não ignorar ao lançar-lhe um olhar fulminante.

- Isso é suposto fazer-me medo? Vai lá mendigar ao teu irmãozinho que se está a cagar para ti como o resto do mundo, aliás.

Marta vira a cara para o lado e avança, mantendo a postura o mais empertigada possível.

“Ele está no telhado”, grita-lhe ainda Rosa.

- Tenta não partir um salto ou cair.

- Insultava a tua mãe, mas é uma senhora honrada. Tão lunática quanto tu, mas pelo menos honrada, não que tu possas dizer o mesmo. Agora, deixa-me.

Marta sobe ao segundo andar e usa a escada de serventia ao telhado podendo ver que a porta de acesso está aberta.

- Querido irmão, que bom te ver.

- Não o suficiente. Responde-lhe este.

-Não sejas também tu desagradável, acabei de me cruzar com aquela cabra da tua cunhada. Eu só te quero pedir desculpas por aquela nossa última conversa.

- Que também é tua… Agora, diz-me lá o que fazes aqui. Eu sei que estás a tentar refazer a tua vida, mas eu não tenho dinheiro, a minha vida financeira é um esterco, o que ganho gasto e não chega.

Comentários

  1. Naquele dia, o telhado parecia museu com entrada grátis. De quem é o diheiro que Rodrigo guardava: Dele, mas por ser sujo, não lhe querer tocar? Ou de outra pessoa, e que pessoa é essa que não peocura o dinheiro? Ou não sabe onde Rodrigo estava? Caramba, a coisa está intrincada.

    Bom fim de semana, João

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    1. Este episódio deixou-me um bocado baralhada. Não me apercebi de nada que a Rosa e o marido tivessem feito algo pelo Rodrigo, a não ser claro a Rosa ter ido para a cama com ele,. Bom ele estava vivo e disse à irmã que não a podia ajudar? E tinha em casa os dez mil no envelope que levantou do Banco para lhe dar? Se os tinha porque não lhe disse que aguardasse um pouco que lhos ia dar? E se não tinha e a irmã acabou por o convencer, então ele saiu vivo do telhado e foi ao banco. Mas se assim foi, o que é que ele foi fazer ao telhado depois? Mataram-no na escada e lançaram-no do telhado? Não me parece muito credível. Quem o matou desejaria o dinheiro que ele tinha nas malas? A menos que pensasse que ele o tinha gasto, não ganhavam nada em matá-lo. Antes teriam todo o interesse em mantê-lo vivo pelo menos até à recuperação das massas. Não consigo descortinar nada no nevoeiro denso deste mistério. De uma coisa eu estou convencida. Não foi suicídio nem descuido. Foi assassinato.
      Quem foi o assassino não sei mas não sei porquê eu estou mais inclinada para uma das quatro mulheres do que para um homem. Embora é claro possa estar enganada.
      Abraço saúde e bom fim de semana

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    2. Noname, minha menina do Norte, referes bons pontos e vou deixar esses mesmos pontos a flutuar (sorrisos)

      Obrigado, beijinhos e boa semana para ti

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    3. Olá, Elvira!
      Não fique confusa (tente não ficar – sorrisos). Não sei como é que se passa com a Elvira, mas quando penso num personagem e tento dar-lhe vida, acabo por ir buscar elementos a lugares-comuns (não necessariamente de pessoa que conheço) e Rosa, entre muitos outros pontos, está inspirado naquele tipo de pessoas (homens e mulheres) que gostam de apregoar o quanto ajudam os outros porquanto pouco ou nada fazem na realidade.
      Ou seja, nada no conto nos dá informação de Rosa e Pedro alguma vez terem ajudado Rodrigo e esta dúvida agora deixada no ar, como em qualquer conversa real com outra pessoa, quem “ouve” (neste caso, quem lê) deve absorver e interpretar se acredita no que Rosa diz ou não)
      Pelo menos foi o que quis atingir (e lamento se confundi, não era o intuito desta experiência).
      O extrato do banco, em suporte papel era do mês anterior, ou seja, limitava-se a registar o que já esteve na conta e não o que já lá está. Dado ser um exercício de escrita, experiências minhas, posso garantir que Rodrigo não teve tempo de ir ao banco levantar o dinheiro. Tudo o que havia já estava em casa para um momento oportuno. O que quer que estivesse para acontecer/ou a acontecer, já estava a caminho e no meu pensamento, Rodrigo teria prioridades dele e eventualmente por não ser totalmente…
      Quanto à última parte do seu comentário, vou ter de deixar a flutuar (sorrisos) mas desde já aceito aqui “apostas” (caso se comprove que não foi acidente ou suicídio) Para a Elvira foi uma mulher (registado - sorrisos).
      Abraço, espero que esteja bem e com saúde, muito obrigado e uma semana inspirada

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  2. Estou como a Elvira....baralhadinha de todo!!!!
    Mas quem manda não ter paciência? Ai se fosse um livro....já tinha ido à frente acalmar a curiosidade. Um bom fim de semana, Amigo, com saúde, principalmente.
    Beijinhos
    Emilia

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    1. Muito obrigado pela simpatia, fez-me sorrir.
      Beijinhos e boa semana

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  3. A "senhora" Rosa é curta e grossa.
    Conversa entre Marta e o irmão, que pouco adianta à história. Continuemos!
    Feliz fim de semana.

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    1. (sorrisos) sim, concordo. Entre outros fatores, Rosa é aquele tipo de pessoas (homem/mulher) que se não falar aparenta uma coisa e se falar muito aparenta outra…
      Entendo que sinta isso, porque traduz essa mesma aparência, mas a conversa entre Marta e o Irmão, traduz uma tentativa de apaziguar a última vez que tinham estado juntos e que ela acabou por estar um pouco alterada e fora da razão… e será importante como introdução a uma publicação que ainda está para acontecer.
      Um beijo e inspiração da boa

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  4. Passando para te desejar um lindo e feliz aniversário! abraços, parabéns! chica

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  5. Coitado do Rodrigo, no dia em que finalmente decide ir ao telhado todos aparecem para o chatear, primeiro a Rosa e agora a Marta e o tema sempre o mesmo, dinheiro.
    Beijinhos

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    1. Mesmo… Um tema corrente naquela família…
      Beijinhos e obrigado

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  6. Continua a história com uma narrativa quase natural nessa família em que se dão mal, principalmente quando há dinheiro à mistura.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Seria de pensar se esta família teria alguma ligação se não houvesse dinheiro à mistura… ou qualquer tipo de outro interesse… E esta é a “cola” que une a criação desta família tão especial. (sorrisos)
      Muito obrigado, um beijo, saúde e muita inspiração

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  7. Olá, João
    Confronto entre Rosa e Marta que gostei de ler :) É que há muita gente
    assim nas famílias. Dão-se como cães e gatos, não desfazendo destes. Penso
    que haverá muito interesse monetário/financeiro à volta do Rodrigo. Não consigo
    descortinar os motivos mas para isso temos o autor que na altura certa
    irá elucidar-nos :) A viver parcamente, com um vencimento mínimo e com dinheiro em casa
    dá que pensar... E à volta disso até nos esquecemos do problema central
    que é a sua morte!

    Abraço
    Olinda

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    1. (muito sorrisos)
      Reservo parte deste comentário para escrever um pouco mais à frente, mas essa (tentativa de fazer esquecer o facto de se continuar a não saber o que é que aconteceu a Rodrigo, o de tentar obrigar os sentidos a focarem-se noutras questões que podem estar/mas que a maioria não vão estar, relacionadas com a morte deste) foi uma das muitas experiências que tentei fazer com este conto, sem saber se ia resultar, até porque é sempre limitado o feedback que consigo ter através dos comentários (seria diferente numa conversa em presença em que eu teria mais facilidade em retirar ilações para o futuro)
      Obrigado, abraço e boa semana

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