“Quando a vida não te pertence – Telhados de vidro” (Texto 22 de 35)
É bem humano protelar para depois as tarefas que nos causam enfado, escolher uma qualquer outra coisa para justificar o não fazer daquela outra que estamos a procrastinar e aguardar por melhores dias ou até ao dia imediatamente anterior àquele em que tem de ser feito ou apresentado, seja no dia a dia, seja nos estudos, seja no trabalho, por forma a fazer face a todas as outras prioridades envolvidas.
Rodrigo
não sentia prazer particular em subir ao telhado e esta parte não era um embuste,
não porque não fosse capaz, não porque sofresse de vertigens ou sequer por
considerar um trabalho menor. Muito simplesmente não era o tipo de tarefas em
que gostasse de gastar o pouco tempo disponível que tinha.
E
assim foi adiando até ao fatídico dia em que, já em pleno inverno foi
pressionado a ir limpar ou a contratar alguém para limpar o maldito algeroz e
que, no caso do seu prédio, está disposto numa zona de fácil acesso, com um
grau de dificuldade que se pode considerar inexistente, a menos que o dia
estivesse particularmente ventoso, e mesmo assim.
Naquela
semana em particular, não houve uma única vez em que o irmão ou a cunhada não
lhe falassem no bendito algeroz.
Recebeu,
igualmente, umas poucas mensagens de telemóvel e mesmo uma chamada de voz de
Jaime a recordar que tinha de ser feito e que ele Rodrigo, era o administrador
do condomínio.
Por
duas ou três vezes, os próprios alemães lhe enviaram e-mails a perguntar quando
é que ele estava disposto a tratar da questão, visto a casa deles se encontrar
no último andar e recearem uma qualquer inundação.
E
pior que isso, foi tratar de um assunto que o deixava contrariado e nem assim o
deixarem tranquilo.
Mal
tinha subido, ouve uns passos atrás de si e era Rosa que subira no seu encalço e
se já vinha a gritar antes dele conseguir entender o que esta dizia, mais o
fez quando ficou perante ele.
-
Estás atrasado na prestação. Ele também é teu filho. O colégio não se paga
sozinho, há roupa, há livros, há despesas de saúde.
-
Rosa, não tenho dinheiro, não estou sequer a conseguir pagar as minhas contas.
Tem um pouco mais de paciência, eu resolvo, como aliás sempre resolvi, mas não
se continuares em cima de mim.
Durante
todos estes anos, entre eles, sempre houve uma chama por apagar e ambos faziam
por ignorar o que estava perfeitamente visível aos olhos de ambos e muito
provavelmente aos olhos do próprio Pedro.
Ainda
hoje, ele não sabe bem quem é que deu o primeiro passo ou quem teve a iniciativa
do primeiro beijo e do primeiro toque, ele desempregado e carente, ela
acomodada e reprimida e o que aconteceu a seguir foi mantido durante uns meses
ainda, com tardes inteiras de louca paixão.
Sabendo-se
grávida, Rosa teve um ataque de realidade e recusou-se a romper com um
casamento estável para ficar com um desempregado, palavras dela. Pedro assumiu
a criança que milagrosamente dentro de tudo o que aconteceu acabou por lhes
salvar a relação.
Não
que Pedro tenha perdoado o irmão, mas forçou-se a esquecer, preferiu o amor que
já tinha por Rosa potenciado pelo nascimento de um filho que ele merecia ter. A
união dos irmãos não voltou a ser a mesma, mas Rodrigo tinha acesso ao menino e
aceitou ser apenas chamado de tio.
Inconformada,
mas sem muito mais a fazer ou dizer, Rosa solta uns quantos impropérios e desce
rapidamente as escadas em direção à saída.
Rodrigo
suspira, mas se ao menos o seu dia tivesse ficado por aí…
Cada vez mais interessante. Acompanhando
ResponderEliminar.
Uma quarta-feira feliz … cumprimentos cordiais.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Obrigado, abraço e boa semana
EliminarE cá está o tio pai! A Elvira tinha razão. Pelo menos, parece que não foi a Rosa a empurrá-lo Talvez o irmã o tenha alguma coisa a ver com o assunto A ver vamos!!! Beijinhos e saúde, João!
ResponderEliminarEmilia
Rosa parece que está livre de qualquer suspeitas, será? (sorrisos)
EliminarPedro passou a entrar na lista de apostas? (mais sorrisos)
Muito obrigado, beijinhos e boa semana
Eu tinha razão. Desde o primeiro momento tive a certeza que o filho da Rosa era do Rodrigo e que e relação entre os irmãos era tão difícil por o marido da Rosa desconfiar disso. O que não me passou pela cabeça é que o irmão, não desconfiava, sabia a verdade.
ResponderEliminarAbraço e saúde
O irmão sabia… quando tomei esse caminho para estes 3 personagens não quis cair no lugar-comum, nesse ponto já tinha acontecido com a traição. Quis sim, um Pedro esclarecido e que se sente ele o pai da criança, ao aceitar o que aconteceu, algo que para mim dá por um lado valor ao personagem, ao mesmo tempo que convenientemente ajuda a criar desconfiança.
EliminarAbraço, espero que esteja bem.
Tens razão, Elvir.a....saber a verdade e aceitar? Muito esquisito!!! Se calhar , há algum problema com ele e assim onseguiu ter um filho Será isso, João? Bem... não vais dizer e agora o assunto está resolvido . O tio pai já se foi...
ResponderEliminarDesculpa a intromissão e tudo de bom. Um beijinho e até ao próximo capítulo
Emilia
Vou dizer, claro que vou (sorrisos) na construção desta parte do enredo e de certa forma dos personagens acreditei que apesar de difícil e de arriscar o descrédito da ação que num mundo tão esclarecido, a pagar as devidas consequências e sem prever o futuro (de algo que arrisca-se mal resolvido) da relação que um homem (uma mulher) maduro e experiente, se ainda amar, poderá escolher isso mesmo, tentar continuar a amar
EliminarUm beijinho, obrigado e boa semana
Com tanta gente em cima do Rodrigo a pressioná-lo por causa do algeroz alguma coisa tinha de correr mal. E com os nervos com os imprompérios da Rosa...e se calhar com alguns problemas que desconhecemos, deu-lhe uma vertigem e...pronto.
ResponderEliminarClaro que este meu raciocínio é demasiado simplista..
A ver vamos.
Abraço
Olinda
O seu raciocínio é ótimo (sorrisos) mais ainda porque já nem sequer me recordo do fim que está previsto…
EliminarAbraço, obrigado e o que falta da semana que seja tranquilo
Muitas solicitações para que Rodrigo limpasse o algeroz do prédio, e mesmo sem vontade lá foi ele fazer o serviço, não sei se o chegou a fazer, acrescento.
ResponderEliminarNunca pensei que ele tivesse filhos. Via-o como um homem independente, inteligente e dono da sua vida e vontade, mas assim não era.
Se o irmão dele aceitou a criança, sabendo do que se tinha passado, anteriormente, então tudo certo, mas as crianças precisam de ser bem tratadas, enfim, é um investimento, em minha opinião. E nestas histórias há sempre uma mulher que pede, que até explora. Pois é, Rodrigo, devias ter sabido "brincar".
Resto de uma tarde feliz.
“há sempre uma mulher que pede” ou que é obrigada a pedir quando a outra parte não cumpre… não deveria ter de pedir… não é uma questão que foi retratada no conto com as devidas honras”, no sentido que é um assunto demasiado sério para ser tratado com leveza e leviandade e aqui apenas quis mostrar o motivo traição, o motivo falta de dinheiro, o motivo contas para pagar (por um lado e os pontos de stress de Rodrigo, por outro).
EliminarEu sou suspeito, dado ser o responsável pelas escolhas dos personagens (sorrisos), mas considero que Rodrigo fez algumas más escolhas, mesmo partindo de que não há pessoas perfeitas e que todos nós temos a nossa luz e a nossa sombra. Não posso adiantar muito mais, até porque tenho uma ideia do que aconteceu, mas que só ficará mais clara com a revisão e agendamento dos últimos textos (os de maio) que só farei em maio para não arriscar e publicar no lugar de agendar (algo que acontece com frequência)
Um beijo e dias inspirados.
Agora já mete lençóis e traições??
ResponderEliminarQue vida complicada!
Um abraço
Eu avisei que tinha receio que se transforme numa novela mexicana (nunca vi nenhuma ) Abraço e boa semana
EliminarPedro sabe, Pedro aceita mas, pelos vistos teria que ser Rodrigo a pagar a sua criação, estranho, um Pedro que aceita mas não cuida? Uma Rosa que trai, um marido que, mais uma vez, aceita... Huuumm
ResponderEliminarNão sentem um mau odor por aí? A mim cheirou-me mal.
Um Rodrigo pobre, cheio de dinheiro, dele? Ou à sua guarda?
Mistéééério. :)
Bom dia, menina do Norte,
EliminarTocas em bons pontos. Por tudo o que já li até ao último texto publicado eu arriscaria dizer que seria provável que Rodrigo já tivesse pagado outras coisas, ou muitas outras coisas bem antes do nascimento do sobrinho (filho). Do mesmo modo que no meu pensamento Pedro cuida, com amor, com o sentimento de que aquele filho é dele e não do irmão, porque o quis, porque o queria e não conseguiu ter, porque ama a Rosa independentemente do que aconteceu e talvez porque esta tenha o controlo da família e seja a fonte de todas as decisões. O Pater famílias não tem de ser necessariamente o homem (sorrisos)
Mas concordo, nesta história, tudo parece cheirar mal ou diferente, numa família ainda mais atípica do que todas as outras.
E terminas com uma bela pergunta. Um beijinho para ti.
Bem a historia esta cada vez mais interessante. Não o estava a ver a ser pai e muito menos ter traído o irmão. Algo de muito errado se passava com o Rodrigo, pois tinha dinheiro em casa e não cumpria as suas obrigações de pai, vivendo parcamente, o que leva a crer que o dinheiro não lhe pertencia.
ResponderEliminarBeijinhos
Bom dia,
EliminarMuito obrigado pela simpatia.
Uma família bastante disfuncional. E a escolha de “chocar” com Rodrigo pai que trai o irmão acabou por vir de uma necessidade (de ao contrário de contos meus anteriores) mostrar (tentar mostrar) personagens imperfeitos neste exercício de escrita e daí também a apresentação que dei do personagem Rodrigo, naquele momento próprio em que tendencialmente o falecido passa a intocável e a perfeito e neste momento começamos a ter acesso à sua vida menos perfeita e das qualidades estamos a ter acesso também aos defeitos…
Não posso falar da última parte, mas independentemente do que acontecerá nos textos seguintes, “aqui e agora” foi a intenção que tive quando escrevi… deixar a ideia disso mesmo “será que o dinheiro era mesmo dele?/Será que apesar do que tinha dito a Rosa, no telhado pouco antes da queda acontecer, Rodrigo já tinha “resolvido” e apenas não era ainda o momento/ Será que se limitou a desistir e querer ir para parte incerta? Entre muitas outras questões.
Um beijinho e obrigado